Cadernos Afro Memória – Vº1, Nº1 – Acervo Milton Barbosa

Os Cadernos Afro Memória são uma publicação quadrimestral que aborda determinada trajetória ou temática presentes nos acervos da luta antirracista que o Projeto Afro Memória tem trabalhado para preservar e difundir. Alguns números serão focados na trajetória da pessoa/organização que a partir de suas atividades de militância acumulou o acervo, tendo também uma função de apresentação geral do acervo. Outros números visarão explorar de forma transversal como uma determinada temática importante para a memória da atuação política do movimento negro, como a representação política, a luta por ações afirmativas e denúncia da violência racial, está representada nos diferentes acervos.

Este é o primeiro número do Cadernos Afro Memória, resultado dos trabalhos do Afro CEBRAP e das parcerias desenvolvidas com o Projeto Memory and Identity in the Afro Brazilian Archives, da Universidade da Pensilvânia, e com o Projeto Memória do Movimento Negro, do Arquivo Edgard Leuenroth, da Universidade de Campinas. 
Trata-se do primeiro número de uma produção que se pretende regular para divulgar os materiais disponíveis de acervos do movimento negro que nós temos captado, digitalizado, catalogado e, o mais breve possível, colocaremos à disposição de pesquisadores, estudantes, professores, jornalistas e militantes de todo o Brasil, e também do mundo, para que conheçam e divulguem a historia do movimento negro brasileiro.

Para o primeiro número, escolhemos trabalhar com o material documental de Milton Barbosa, paulista de Ribeirão Preto, crescido no bairro paulistano do Bixiga, liderança quarentenário do Movimento Negro Unificado. Muitas pessoas são testemunhas de sua história desde o início dos anos 1970, quando atuou junto a escolas de Samba, grupos culturais, movimentos estudantis, sindicais, passando pela atuação política na clandestinidade imposta pela ditatura militar. Milton fundou o Movimento Unificado contra a Discriminação Racial, que depois se tornou o MNU, é membro fundador do Partido dos Trabalhadores, onde ainda se encontra, foi candidato a deputado federal nas primeiras eleições da redemocratização, participou de todas as campanhas eleitorais desde então, organizou um sem-número de atos públicos, ajudou a fundar várias organizações de base, articulações, fóruns, campanhas. São raros os acontecimentos do movimento negro contemporâneo em que Milton não esteve presente. E toda esta trajetória está ricamente registrada nos acervos que ele gentilmente cedeu a este Projeto.

São muitos documentos presentes neste fundo, mais de nove mil. Eles registram os momentos mais importantes do movimento negro brasileiro. Neste conjunto é possível notar as redes, alianças, conflitos, disputas entre os vários atores do movimento negro brasileiro. O mergulho neles permite facilmente encontrar estes fatos emblemáticos do protesto negro, mas também é possível reconstruir os processos que levaram a eles. Para dar uma noção da riqueza deste acervo, estamos publicando este caderno. Escolhemos os documentos que consideramos mais eloquentes para contar um pouco do que podemos encontrar. Documentos que são ao mesmo tempo emblemáticos dos movimentos negros do Brasil e também do próprio acervo e da trajetória de Miltão.